Uma das
condições de dor em joelho mais comum, especialmente em corredores, é a dor patelofemoral, também conhecida
como condromalácia
patelar.
Basicamente,
é uma dor que ocorre na região da
frente do joelho, na patela (esse pequeno osso que está á frente do joelho),
geralmente sentida ao redor ou atrás da patela, e parece ocorrer,
especialmente, durante ou após atividades de dobrar ou esticar os joelhos, como
agachar, saltar, subir ou descer escadas, dentre outras, como ficar muito tempo
com o joelho dobrado.
É
importante dizer que a dor patelofemoral
não parece ser uma condição auto-limitada, ou seja, uma condição que melhora
naturalmente com o tempo. Ela parece, de fato, necessitar de um tratamento
específico que, como vamos ver, deve ser iniciado o quanto antes.
O que
acontece com quem desenvolve dor patelofemoral?
Um estudo
realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Aalborg (1),
na Dinamarca, avaliou mais de 2000
adolescentes com 15 a 19 anos, sendo que destes, 504 tinham dor no joelho e
153 foram diagnosticados como tendo dor patelofemoral. Esses adolescentes com
qualquer tipo de dor (incluindo dor patelofemoral) foram acompanhados e
reavaliados 2 anos depois. Os dados obtidos mostraram que:
. a dor patelofemoral parece promover
maiores níveis de interrupção ou
diminuição da atividade física ou prática esportiva nos adolescentes.
Possivelmente, podem haver consequências na saúde a longo prazo devido aos
benefícios que os exercícios trazem;
. a taxa persistência/cronificação da dor
patelofemoral parece ser maior que a de outras dores no joelho - 65% dos
adolescentes com dor patelofemoral inicialmente ainda tinham dores 2 anos
depois;
. não
parece ser uma condição auto-limitada,
ou seja, uma condição que se resolve apenas com o passar do tempo;
. em maior risco de terem dor persistente
estão mulheres, indivíduos que não praticam esportes, que tem menores níveis de
qualidade de vida (avaliada via questionários específicos), com elevada
frequencia semanal de dores e/ou com maior duração da dor. Ressalta-se que a
ausência de prática esportiva pode ter sido devido às dores já presentes.
Um outro
estudo, dessa vez realizado pelo Centro Médico da Universidade de Erasmus, na
Holanda (2), avaliou e acompanhou 172 indivíduos de 12 a 35 anos com dores de
joelho, incluindo tanto aqueles com dor
patelofemoral como aqueles cujas dores tinham outras origens (exceto
aquelas oriundas de traumas ou acidentes). Eles observaram que:
. após 6
anos, 19% de indivíduos que, no início, tinham dores de outras origens ainda
estavam com sintomas, enquanto esse valor foi de 40% para os indivíduos com dor patelofemoral;
. nos
indivíduos com dor patelofemoral, menores níveis educacionais e baixo nível de
saúde, especialmente se associados a sintomas bilaterais, travamento ou inchaço
do joelho, são fatores ligados à persistência
dos sintomas.
Os dados
desses dois estudos envolveram indivíduos que não necessariamente realizaram
tratamento ao longo do período em que foram avaliados. Dessa forma, não foi
mostrado de que forma o tratamento mudaria isso. O que se destaca é que, mesmo
após anos depois da avaliação inicial, uma grande
proporção de indivíduos ainda apresentava sintomas.
Como evitar
isso? Como evitar que as pessoas desenvolvam sintomas crônicos da dor
patelofemoral?
Vimos que
a maior duração dos sintomas parece estar ligada com a sua manutenção ao longo
do tempo (1). Outros estudos também mostraram isso (3, 4).
O primeiro
desses estudos (3), realizado na Austrália (Universidade de Queensland),
realizou o acompanhamento de 179 indivíduos que realizaram tratamento para dor patelofemoral, buscando verificar os
quais fatores se relacionavam com maior ou menor melhoria dos sintomas. A maior duração dos sintomas, na ocasião
de início do tratamento, foi relacionada a uma melhoria mais limitada, tanto ao
final do tratamento (6 semanas de duração), quanto um ano depois. Ou seja, pessoas que tinham sintomas há mais tempo
quando foram iniciar o tratamento obtiveram menores benefícios com o
tratamento!
O segundo
estudo (4) também realizado na Austrália,
porém, na Universidade de Melbourne, analisou os dados de mais de 300
indivíduos que receberam tratamento
para dor patelofemoral visando identificar quais fatores estariam relacionados
a um pior prognóstico (piores resultados). O tratamento durou 6 semanas e,
tanto 3 meses após seu início (ou seja, cerca de 1 mês e meio após seu final),
quanto ao final de um ano, os resultados mostraram que quem tinha dor a mais
tempo antes de iniciar o tratamento apresentou piores sintomas. Ou seja, novamente,
pessoas com sintomas há mais tempo quando
foram iniciar o tratamento apresentaram menores
benefícios com o tratamento e piores índices de recuperação! De fato, os
autores sugerem que as dores com mais de
2 meses de duração estão sob risco aumentado de piores resultados.
Com base
nisso, o que se sugere para evitar que os sintomas persistam e que se obtenham
melhores resultados com o tratamento é que não
espere para iniciar seu tratamento para dor patelofemoral (ie condromalácia
patelar). Se você suspeita que tem sintomas, procure profissionais da saúde
preparados e inicie seu tratamento o quanto antes para obter os melhores
benefícios e minimizar os riscos de sintomas persistentes.
Referências
Bibliográficas
1. Rathleff MS, Rathleff CR, Olesen JL, Rasmussen S, Roos
EM. Is Knee Pain During Adolescence a Self-limiting Condition?: Prognosis of
Patellofemoral Pain and Other Types of Knee Pain. The American Journal of
Sports Medicine. 2016 May 1;44(5):1165–71.
2. Kastelein M, Luijsterburg PAJ, Heintjes EM, van
Middelkoop M, Verhaar JAN, Koes BW, et al. The 6-year trajectory of
non-traumatic knee symptoms (including patellofemoral pain) in adolescents and
young adults in general practice: a study of clinical predictors. British
Journal of Sports Medicine. 2015 Mar;49(6):400–5.
3. Collins NJ, Crossley KM, Darnell R, Vicenzino B.
Predictors of short and long term outcome in patellofemoral pain syndrome: a
prospective longitudinal study. BMC Musculoskeletal Disorders [Internet]. 2010
Dec [cited 2016 Sep 17];11(1).
4. Collins NJ, Bierma-Zeinstra SMA, Crossley KM, van
Linschoten RL, Vicenzino B, van Middelkoop M. Prognostic factors for
patellofemoral pain: a multicentre observational analysis. British Journal of
Sports Medicine. 2013 Mar;47(4):227–33.
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