13/10/2017

As Injeções de Corticoesteróides nas Lesões Ortopédicas e Esportivas



As injeções de corticoesteróide são um recurso bastante utilizado no tratamento das dores e lesões esportivas. São elas, de fato, úteis? Quando são necessárias? Será que, ao invés de ajudar, podem prejudicar? 

Vamos buscar responder a essas perguntas, analisando seu efeito em diversas situações clínicas. Prossiga lendo após o infográfico.




Fasciíte Plantar
Qual a utilidade das injeções de corticoesteróides na fasciíte plantar?

Nas fasciíte plantar, o que as evidências nos indicam é que pode haver, de fato, uma redução da dor significativa com o uso de corticoesteróides. Porém, é fundamental ressaltar que esse é um efeito de curta duração, que não costuma durar mais de 4 a 12 semanas (1,2). Ou seja, melhora mas, depois de um tempo não muito longo, volta a ser como antes. 

Dessa forma, o uso de injeções de corticoesteróides NÃO é a solução para as dores da fasciíte plantar. 

Mas além da ausência de benefício real, há um outro "detalhe". Há um aumento do risco do desenvolvimento de RUPTURA da fáscia plantar naqueles que recebem essas injeções (3). É um risco pequeno (1, 4), mas que parece aumentar à medida em que se recebe mais injeções (3). Outro risco gravíssimo é o de atrofia do coxim adiposo do calcanhar (1). Essa atrofia torna a pisada e o contato do calcanhar com o chão doloroso, dificultando a própria caminhada.

Ou seja, além de não ser um tratamento efetivo (que "resolve" o problema - ou ao menos o ameniza consistentemente) ele ainda traz riscos sérios.


Tendinopatia de Ombro
Essas injeções também podem ser sugeridas para dores no ombro. Será que, nesses casos, ela seria indicada?

Embora no ombro o risco de efeitos colaterais pareça ser menor, o benefício clínico também é duvidoso. De fato, a análise de diversos estudos que avaliaram os efeitos clínicos das injeções de corticoesteróides para o ombro (tendinite do manguito rotador) mostra que eles não existem na reavaliação 3 meses após a injeção (7). Ou seja, se há efeito parece ser de duração bastante limitada (algo que dura, no máximo, 2 meses), esse efeito é pequeno, ocorre numa minoria das pessoas e novas injeções não trazem benefício adicional (7).


Tendinopatia Patelar

Será que as injeções de corticoesteróides são úteis na Tendinopatia (Tendinite) Patelar

Uma análise científica de diversos métodos de tratamento para as Tendinopatias Patelares foi recentemente publicada (8). Nela, tratamentos como Fisioterapia, cirurgia, ondas de choque, injeções de corticóide e outros foram analisados. 

O que foi revelado? Que as injeções de corticoesteróide parecem não oferecer benefício clínico duradouro aos pacientes com Tendinopatia Patelar. De fato, apenas um estudo foi feito de forma adequada para essa análise (9) o qual mostrou resultados significativamente superiores de um tratamento com Fisioterapia em relação ao uso de injeções, especialmente na reavaliação 6 meses após o início dos tratamentos.

A injeção pareceu trazer um benefício a curto prazo (não maior que o do tratamento Fisioterapêutico), mas, após 3 meses, os benefícios da injeção foram diminuindo, enquanto continuaram presentes no grupo de Fisioterapia.


Epicondilite Lateral
E na Epicondilite Lateral, será que vale à pena usar corticoesteróides?

Um estudo de alta qualidade, publicado em 2006, mostrou que as injeções trouxeram maior alívio da dor no curto prazo (6 semanas após início do tratamento) do que o não fazer nada ("deixar o tempo passar") ou um tratamento com Fisioterapia. O aspecto a se destacar, porém, é que as injeções foram PIORES do que nada fazer no médio e longo prazo (10).

Em outras palavras, no longo prazo, é melhor NÃO FAZER NADA do que receber injeções de corticoesteróides. No curto prazo, porém, o seu uso seria, potencialmente, benéfico.

Um outro estudo também reforçou esses resultados (11). Nele, os resultados a curto prazo favoreceram as injeções, mas no longo prazo (1 ano) as injeções foram inferiores a nada fazer (11). 

Reforçando o que fora visto, o artigo sugere que NÃO FAZER NADA é, no longo prazo, melhor que tomar injeção de corticoesteróide (11).

Mas se o uso de corticoesteróides pode trazer um alívio rápido da dor (melhora no curto prazo), será que ele auxiliaria o tratamento com Fisioterapia?

Um outro estudo comparou injeção placebo com injeção de corticoesteróide no curto (4 semanas) e longo prazo (1 ano após), juntamente, ou não, à Fisioterapia (12, 13). Embora a injeção de corticoesteróides  tenha apresentado melhores resultados no curto prazo, no longo prazo apresentou resultados piores do que placebo (12, 13). Ou seja, o uso de corticoesteróides, associado à Fisioterapia, foi PIOR DO QUE FISIOTERAPIA APENAS (12). Dessa forma, por mais que consiga trazer um alívio mais rápido da dor (nas 4 primeiras semanas), potencialmente prejudica o tratamento no longo prazo.

Sendo assim, não parece ser recomendável a indicação das injeções de corticoesteróides para o tratamento das Epicondilites Laterais pois, embora possa trazer alívio da dor a curto prazo, não traz benefícios no longo prazo, podendo, inclusive, ser prejudicial.


Considerações Finais
Foi possível ver que, embora as injeções de corticoesteróides tenham potencial, em algumas situações, para alívio a curto prazo, seu uso contém riscos e, no longo prazo, pouquíssimos (se é que algum) benefício. Faltam, porém, análises de seu uso concomitantemente a um tratamento Fisioterapêutico de qualidade, assim como seu estudo no tratamento de outras lesões e condições ortopédicas e desportivas.



Referências Bibliográficas
1. Ang T. The effectiveness of corticosteroid injection in the treatment of plantar fasciitis. Singapore Medical Journal. 2015 Aug;56(8):423–32. ANG (2015)
2. Li Z, Yu A, Qi B, Zhao Y, Wang W, Li P, et al. Corticosteroid versus placebo injection for plantar fasciitis: A meta-analysis of randomized controlled trials. Experimental and Therapeutic Medicine [Internet]. 2015 Mar 24 [cited 2017 Jun 4]; Available from: http://www.spandidos-publications.com/10.3892/etm.2015.2384 LI et al (2015) 
3. Lee HS, Choi YR, Kim SW, Lee JY, Seo JH, Jeong JJ. Risk Factors Affecting Chronic Rupture of the Plantar Fascia. Foot & Ankle International. 2014 Mar;35(3):258–63. LEE et al (2014) 
4. Kim C, Cashdollar MR, Mendicino RW, Catanzariti AR, Fuge L. Incidence of Plantar Fascia Ruptures Following Corticosteroid Injection. Foot & Ankle Specialist. 2010 Dec;3(6):335–7. KIM et al (2010) 
5. Acevedo JI, Beskin JL. Complications of Plantar Fascia Rupture Associated with Corticosteroid Injection. Foot & Ankle International. 1998 Feb;19(2):91–7. ACEVEDO et al (1998)
6. Sellman JR. Plantar Fascia Rupture Associated with Corticosteroid Injection. Foot & Ankle International. 1994 Jul;15(7):376–81. SELLMAN (1994)
7. Mohamadi A, Chan JJ, Claessen FMAP, Ring D, Chen NC. Corticosteroid Injections Give Small and Transient Pain Relief in Rotator Cuff Tendinosis: A Meta-analysis. Clinical Orthopaedics and Related Research? 2017 Jan;475(1):232–43. MOHAMADI et al (2017)
8. Everhart JS, Cole D, Sojka JH, Higgins JD, Magnussen RA, Schmitt LC, et al. Treatment Options for Patellar Tendinopathy: A?Systematic Review. Arthroscopy: The Journal of Arthroscopic & Related Surgery. 2017 Apr;33(4):861–72. EVERHART et al (2017)
9. Kongsgaard M, Kovanen V, Aagaard P, Doessing S, Hansen P, Laursen AH, et al. Corticosteroid injections, eccentric decline squat training and heavy slow resistance training in patellar tendinopathy. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports. 2009 Dec;19(6):790–802. KONGSGAARD et al (2009)
10. Bisset L, Beller E, Jull G, Brooks P, Darnell R, Vicenzino B. Mobilisation with movement and exercise, corticosteroid injection, or wait and see for tennis elbow: randomised trial. BMJ. 2006 Nov 4;333(7575):939–0. BISSET et al (2006) 
11. Smidt N, van der Windt DA, Assendelft WJ, Devillé WL, Korthals-de Bos IB, Bouter LM. Corticosteroid injections, physiotherapy, or a wait-and-see policy for lateral epicondylitis: a randomised controlled trial. The Lancet. 2002 Feb;359(9307):657–62. SMIDT et al (2002)
12. Coombes BK, Bisset L, Brooks P, Khan A, Vicenzino B. Effect of Corticosteroid Injection, Physiotherapy, or Both on Clinical Outcomes in Patients With Unilateral Lateral Epicondylalgia: A Randomized Controlled Trial. JAMA. 2013 Feb 6;309(5):461. COOMBES et al (2013)
13. Coombes BK, Connelly L, Bisset L, Vicenzino B. Economic evaluation favours physiotherapy but not corticosteroid injection as a first-line intervention for chronic lateral epicondylalgia: evidence from a randomised clinical trial. British Journal of Sports Medicine. 2016 Nov;50(22):1400–5. COOMBES et al (2015)




Um comentário:

  1. Obrigada novamente por seu esclarecimento! Estou adorando seu blog, pena que não li esse artigo antes de tomar uma injeção de corticoide. Como iniciei a fisioterapia junto, deve ajudar a recuperar mais rápido apesar de que não tomarei mais😘💪👊 já que seu resultado não é tão efetivo.

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